terça-feira, 12 de agosto de 2014

A CANA QUE QUEIMA. DE QUEM É A CULPA?

       Todo ano é a mesma coisa. Durante os meses de maio a outubro os incêndios em canaviais transformam a atmosfera das cidades do interior de São Paulo.

       O sol brilha opaco, o céu fica cinza e o ar seco dessa época ganha a companhia indesejada do gás carbônico. Nesse conjunto de fatores a respiração fica comprometida. A tosse é o primeiro sintoma, que atinge mais severamente os mais velhos e as crianças. Os hospitais ficam cheios. Formam-se filas no setor de inalação, onde as pessoas procuram aliviar as consequências de tanta fumaça no ar.
         Existem alguns protocolos assinados pelos representantes das Usinas de Álcool e o governo do Estado de São Paulo que determinam o controle das queimadas nos canaviais. No caso de Castilho-SP e região, cuja declividade é baixa, este acordo prevê quase que a proibição da queima deste monocultivo[1]. Entretanto, elas continuam acontecendo.

Figura 1 – Incêndio de canavial no dia 02 de agosto assusta castilhenses.



Figura 2 – Novo incêndio de grandes proporções no dia 04 de agosto, mais uma vez pôde ser visto da cidade de Castilho-SP.
Fonte: arquivo pessoal de Marco Apolinário.

         Os responsáveis pelos canaviais argumentam que se trata de incêndios involuntários. Alegam que são acontecimentos corriqueiros para esta época do ano, onde a falta de chuvas e as bitucas de cigarro atiradas dos carros de cidadãos comuns é que ateiam fogo nas plantações. Ou ainda argumentam que muitas vezes tudo é culpa de algum vândalo descontente com alguma usina de álcool.
             Mas, é preciso esclarecer. Se estes incêndios são fruto do desleixo de algum fumante, por que a imensa maioria deles acontece justamente em canaviais? Por que não nas pastagens secas desta época? Ou ainda, por que a maior parte destes incêndios se dão em canaviais já prontos para o corte, visto que para qualquer vândalo inteligente seria mais coerente por fogo em canaviais ainda baixos, assim o prejuízo do usineiro seria maior?
             Alguns fatores podem explicar este problema. Existem dois modos de plantio de cana-de-açucar: um deles são as plantações dos próprios proprietários da terra, que no tempo certo vende a produção ao usineiro, a outra forma se dá através dos arrendamentos das terras às usinas de álcool.
           A principal suspeita é que alguns fazendeiros, na ânsia por vender logo a sua plantação de cana, queimam-na para antecipar a colheita. Já nos casos das fazendas arrendadas, a queimada seria feita por algumas empresas que preferem "limpar" o canavial, pois, mesmo sendo mecanizado o corte, a cana queimada facilita e agiliza a colheita, torna mais rápida a passagem das máquinas.
        Ou seja, tudo indica que se trata de casos de pura busca desenfreada por maiores lucros. A poluição que não sai dos escapamentos dos carros que são movidos a álcool, é compensada pelo inferno das queimadas de cana de açúcar.
       Enquanto os coniventes governos e os consentidos ministérios públicos não tomam ações eficientes a população sofre com o ar pesado dessa época do ano. Enquanto os que lucram com estes canaviais não forem responsabilizados por estes danos ambientais nos restará lamentar a perda dos tempos em que Castilho-SP e região tinha na qualidade do ar um dos seus atributos elogiáveis.

Dóri Edson Lopes



[1] Fonte: http://www.grupocultivar.com.br/sistema/uploads/artigos/27-01_gc_cana.pdf

ANIMAIS SILVESTRES CONFINADOS


O município de Castilho-SP é tido por muitos como excepcional em suas características naturais, com áreas que são comparadas ao Pantanal, por seu tipo de biodiversidade. Os turistas que chegam à cidade se deparam com construções cujas arquiteturas procuram ressaltar esse patrimônio natural do município. Os telefones públicos temáticos de peixes, garças, tucanos, capivaras, araras, etc, são outro exemplo de que estamos em uma região onde a natureza ainda tem (ou tinha) algum espaço.
Nos últimos dias, em meio ao clima de Copa do Mundo, foram divulgadas noticias da presença inesperada de animais silvestres em ambientes que não condizem com seu habitat.
Na última semana de junho uma onça parda foi encontrada morta na rodovia de acesso à barragem de Jupiá, próximo ao posto policial. Tudo indica que tenha sido atropelada por um veículo de grande porte, devido ao tipo de ferimento encontrado no animal.

Figura 1 - Onça Parda, morta próxima ao aterro da barragem Jupiá
Fonte: www.paparazzinews.com.br

Já na última sexta-feira, um macaco Bugio foi visto em eucaliptos localizados ao fundo da Escola Mauro Roberto, no bairro Laranjeiras, chamando a atenção de moradores que solicitaram ao corpo de bombeiros o resgate do animal.

figura 2 - Macaco Bogio, visto na área urbana de Castilho-SP
Fonte: www.donnegaimagens.com.br

Não é novidade este tipo de noticia, em 2012, por exemplo, um casal de Jaguatirica foi capturado no conjunto habitacional ‘Vila dos Operadores’.
Figura 3 - Jaguatirica fotografada na Vila dos Operadores

Parecem fatos sem relação, mas se somarmos estes recentes acontecimentos a outros que vêm ocorrendo veremos que algo preocupante está acontecendo com a natureza da região.
Há alguns anos passou a ser comum a presença araras, tucanos e maritacas voando pela cidade. Apesar da beleza e encantamento que proporcionam é algo novo e incomum a presença de aves deste tipo em cidades.
Tudo indica que não se trata de uma superpopulação destes animais, mas sim da falta de espaços de sobrevivência no campo. É comum araras, tucanos e maritacas atacarem árvores frutíferas da população que mora na cidade, o que mostra que estas aves estão tendo problemas em encontrar alimentos em seu habitat natural.
Figura 4 - Araras no Centro de Castilho-SP
Fonte: arquivo pessoal
Coincidência ou não a presença destes animais nas cidades se tornaram mais corriqueiras depois que a região de Castilho-SP e também de Três Lagoas-MS passaram a ser ocupadas por extensas plantações de cana de açúcar e de eucalipto.
Diferente da pecuária, que ainda permitia a locomoção de muitos animais e ainda alguma sobra de vegetação nativa, que muitas vezes eram mantidas para sombreamento do gado, as plantações de cana e eucalipto costumam dizimar a maior parte de vegetação nativa que por ventura atrapalhe a passagem de tratores, máquinas ou que tomem espaços.
Os casos citados mostram que estes animais estão sendo confinados à áreas de sobrevivência cada vez menores. Ninguém é contra a criação de emprego, mas o mínimo que poderia se exigir é o aumento de áreas de preservação ambiental, onde estes animais pudessem minimamente ter um refugio. 
Entretanto, a criatura chamada ‘capitalismo’ (aquela que se tornou maior que seu criador) obriga retorno maximizado, e a bancada ruralista em Brasília fez por onde fosse aprovado o novo código florestal que permite, por exemplo, a redução de áreas de preservação perto de cursos d’água, o que mostra que a tendência é que esta situação piore.
Como não há, por enquanto, nada que mude esta marcha, este artigo vale, em plena Copa do Mundo, como um registro de quem não quis deixar estes casos passarem em branco.
E lembrem-se, toda vez que virem as araras, maritacas e tucanos na cidade, admirem, pois são lindas aves, mas muito provavelmente devem estar com fome.


Dóri Edson Lopes

Castilho vive crise de representatividade

publicado no blog Opositores em fevereiro de 2014

Foto retirada do Portal Castilho

O ano de 2014 nem bem começou e Castilho já viveu dias intensos em sua vida política.
O caso do vale-alimentação, aprovado pelos vereadores no final do ano passado em favor dos mesmos, já no apagar das luzes, por unanimidade e as manifestações por moradia trouxeram algumas certezas.
A primeira delas é a de que a classe política de Castilho está distante dos anseios e das lutas da população. No caso dos vereadores e o vale-alimentação o que causa revolta  não é somente a questão moral, mas é também saber o tipo de prioridades que foram estabelecidas na Câmara Municipal.
É verdade que ser vereador em Castilho não deve ser lá tarefa muito fácil. Quem ocupa um cargo desses deve ouvir muitos pedidos de ajuda de um povo bastante carente como o de Castilho, mas, não é com esmola que se justifica tal atitude. Até porque este problema é algo relativo, pois quanto mais se ganha, mais vão ser procurados, afinal dependem de outras pessoas para estarem onde estão. 
A questão é que há vários desafios e problemas estruturais que devem ser enfrentados com urgência. Por exemplo, enquanto o vale-alimentação aos vereadores era aprovado, a Águas de Castilho reajustava suas tarifas em cerca de 11%, sem autorização de ninguém. As pessoas que reivindicavam casa continuavam esperando alguma luz para os seus problemas de moradia. A estação ferroviária continuava a esperar o projeto de tombamento, as sessões continuavam a ser durante o dia, longe da maioria; isso pra não falar de temas mais complexos.
Todos estes manifestos por moradia que aconteceram recentemente reforçam o sentimento de que existe um problema de representatividade no município. Desde outubro passado, quando foi feito o primeiro protesto do qual fecharam o acesso à cidade, se esperava a solução para a questão de falta de moradia de alguns moradores do Bairro Nova Iorque. Como no final de janeiro o problema persistia e pouca, ou nenhuma satisfação era dada, este movimento popular voltou com mais força e mais radical que anteriormente. Aliás, não se tem noticia na historia de Castilho de nada mais radical do que o que aconteceu por estes dias.
Mesmo com a cidade em chamas não se tem noticia da presença de algum vereador nestas manifestações ouvindo ou negociando com manifestantes. Ao que parece, o prefeito teve que enfrentar sozinho o problema. Mas, como havia acontecido na greve dos servidores, mostrou que tem muita dificuldade de mediar conflitos. Sofre de desconfiança da população e seus argumentos nem são mais ouvidos. Parece pagar pelos oito anos do mandato anterior, onde é acusado de ter negligenciado as questões salariais dos servidores e a de moradia na cidade.
Foto retirada do Portal Castilho

Por tudo isso, a percepção que se tem é o de que há uma crise de representatividade no município, onde as pessoas não acreditam e nem confiam mais nos seus representantes. Logicamente que é uma situação que não vem de hoje, mas que vem se desenvolvendo a cada época.
A questão não é só moral, talvez nem seja esse o caso. O problema muitas vezes é a distância que muitas destas pessoas que nos representam têm em relação a questões sociais mais amplas, que exigem certo enfrentamento.
Não é só falta de interesse, parece faltar também maior orientação de como agir, o que reivindicar em certas situações. Representantes têm que ser líderes e estar em meio às lutas da população, propor mudanças, buscar soluções, ter consciência de classe.
Portanto, Castilho precisa também de uma organização partidária de classe, com um programa bem defendido, que abarque as principais reivindicações da população trabalhadora, que busque torná-las uma realidade, que oriente seus membros, que contribua na organização de movimentos como o que aconteceu recentemente por moradia, para que não caiam nas mãos de picaretas que usam pessoas como massa de manobra.

Enfim, Castilho precisa de representantes com menos simpatia e mais ideologia.

Dóri Edson Lopes

É preciso refletir: a CDHU e o possível conflito

publicado no blog Opositores em fevereiro de 2014


É preciso refletir. Refletir e refletir. Mas com calma pra não doer a consciência.  O movimento popular que ocupa as casas da CDHU e as reações diante dele sintetizam a situação social e política da cidade.
Créditos da imagem: Portal Castilho
O que é fato?  Há muita gente precisando de moradia. E não venham me dizer que isso não é verdade, que as pessoas que estão lá, em sua maioria, já tem casa. Dizer isso é reproduzir um discurso generalizante e preconceituoso. É verdade que muitos dos manifestantes fizeram parte do protesto no bairro Nova Iorque, mas, como já disse Márcio Antoniasi no texto anterior, esses movimentos são consequência, o desenvolvimento de uma bola de neve. O que temos em Castilho é um número reduzido  de pessoas com um grande poder aquisitivo, adquirido de diversas formas, entre elas (em grande parte delas), a exploração e, não duvido, a corrupção.  Castilho é Brasil. O Brasil é assim.

Esse grupo, que não deve passar de 15 pessoas, tem como hobby comprar terrenos, construir casas, ou comprar casas já prontas e alugar "bem baratinho" para famílias que não fazem parte desse grupo reduzido, pessoas pobres que, diferentemente deles, não conseguem construir nem mesmo o seu lar.  É uma das formas mais puras de desenvolvimento do capital e aumento da desigualdade. Situação que lembra muito à dos grileiros no Mato Grosso ou à dos coronéis de um passado recente (e ainda presente) de nosso país.  Esse é o negócio “honesto” que garante escolas particulares para seus filhos,  banca o silicone de suas mulheres e as micaretas de suas filhas. Ah, claro, e garante também que eles comprem mais casas e aluguem, aumentando e garantindo a “subsistência”  de seu “limpo” negócio.

Mas é fato, também, que Joni não está de todo errado. A competência em relação à CDHU é, principalmente, do Estado, do sorridente Alckmin que esteve aí nos dando uns busões e tirando umas fotinhas com os camaradas. O que Joni propôs nas negociações é o seu limite: desapropriar terrenos e lutar para a liberação da construção de mais casas. Mais que isso, só a elaboração de um plano diretor e a implantação (utopia!) de um IPTU progressivo para imóveis que não cumprem sua função social, como é o caso de casas de aluguel que ficam fechadas até o início da safra de cana, para serem alugadas aos trabalhadores por preços absurdos. 
O que deveria ter sido mais debatido pelas lideranças do movimento era a obrigação da prefeitura em fiscalizar e garantir que a empresa cumpra o contrato, que, ao que parece, não houve. Faltou aos líderes cabeça fria para analisar a situação e conduzir as negociações com mais embasamento. Mesmo se tivessem se rendido aos argumentos de Joni e desocupado as casas, teriam, ao meu ver, saído como vencedores, realizando um protesto marcante que serviria de aviso aos nossos governantes.   
Agora estamos na iminência de um conflito. O fantasma da vinda Choque anda povoando as mentes fascistas de muitos. Esses dias vi uma pessoa publicando na página do Facebook de um dos líderes do movimento fotos de policiais do Choque e frases em tom ameaçador, idolatrando esse grupo militar e avisando sobre a possível “força” que será usada contra os manifestantes no momento em que houver a reintegração. Materialização da ideologia latifundiária conservadora, de que terra não se conquista, se compra, então, "pau neles!". Tem muito asno andando e falando em Castilho...
E por onde anda o nosso prefeito? Está fazendo história! Acaba de se tornar o primeiro prefeito da história de Castilho a tirar férias. Todo mundo merece umas férias, inclusive ele. Porém, não me parece um momento bom para isso. Quer dizer, depende do ângulo que se analisa...
Enfim, é fato que um conflito não é bom para ninguém. Não é bom para os manifestantes, pois sabemos como a polícia brasileira, em especial a paulista, gosta de tratar manifestantes. Não é bom para a imagem do atual governo municipal, já ridicularizado na região pela a atitude de alguns vereadores. Um conflito assim entraria para história e mancharia para sempre os atuais governantes. Não é bom para o Estado, para Alckimin, para o PSDB, já que 2014 é ano de eleição. Haja ônibus para ofuscar as consequências de um possível conflito. É preciso refletir.


Samuel Carlos Melo
* com a colaboração de Danilo Souza

Expulsar a Águas de Castilho: na lei ou na marra?

publicado no blog Opositores em novembro de 2013


Recentemente foi publicado em diversos sites de Castilho-SP e região matérias que dão conta da questão do abastecimento de água na cidade de Castilho.
Ao que parece, o quase levante promovido pela população do Bairro Nova Iorque colocou o assunto em pauta novamente. Não é pra menos, pois, a maior reclamação das pessoas daquele bairro era justamente as constantes faltas de água na torneira de suas casas. Algo que não ocorre somente lá, mas em várias outras partes da cidade.
Diante do ocorrido, era preciso uma resposta, afinal, a privatização da água é uma questão das mais discutidas no mundo político castilhense e foi amplamente explorada na última eleição. Todos esperam a prometida solução para o caso. Atualmente, talvez seja o maior clamor do povo, junto da qualidade no atendimento médico.
Entre informações e desinformações foi publicado que o prefeito pretende romper o contrato com a concessionária “dentro da legalidade”**, sugerindo que irá tentar, através da lei, caçar o vergonhoso contrato assinado pelo ex-prefeito.
Dentro do contexto, parece ser a saída mais coerente para se tentar. Afinal, o abusivo e escandaloso documento assinado prevê diversas indenizações caso a Prefeitura rompa o “acordo”.
Essa é a situação. Quem vê tem a impressão de um caminho estreito, de poucas, ou nenhuma saída. Tudo depende de promotores e juízes. Os mesmos que até agora pouco ou nada fizeram, mesmo diante de tantas evidencias de conluio e abuso de poder no processo de privatização do serviço de água e esgoto em Castilho e também de Andradina.
O que dá mais esperança é o fato da empresa/concessionária Águas de Castilho fazer muitas porcarias, sendo assim, é bem possível que justiça seja feita.
Para isso, a Arsae, agência reguladora do serviço de água e esgoto, foi melhor estruturada e através dela a Prefeitura espera se armar legalmente para por fim a esta privatização. Foram indicados novos funcionários para esta agência, sendo que dois deles tem histórico de luta pela causa. Resta saber se os demais que trabalham no local também estão comprometidos.
Mas, além desta alternativa poderiam tentar outras, tudo dentro da legalidade.  Por exemplo, mobilizar a bancada governista na Câmara e criar uma CEI “CPI” para investigar o descalabro que foi todo o processo que envolveu essa privatização. Afinal, todos na cidade suspeitam que os envolvidos no caso foram comprados. De repente, se o sigilo bancário e telefônico fosse quebrado poderiam tirar a prova se houve mesmo suborno. E ser for provado que houve suborno? Já mataria ali mesmo a questão. Ou qual juiz negaria o fim deste contrato diante de tais evidências?
É uma alternativa de um leigo no assunto jurídico, talvez existam mais. Quem sabe?
Portanto, a tal legalidade é um caminho que se apresentou, já o outro foi indicado pelo povo do bairro Nova Iorque que demonstrou que a paciência está se esgotando. As janelas do escritório da Águas de Castilho também mostram isso.

Dóri E. Lopes 

Quem pariu os black blocs que os balancem!

publicado no blog Opositores em outubro de 2013


"Se os militares tomassem o poder não estaria essa baderna!"
Frases desse tipo foram cada vez mais ouvidas ou lidas nas páginas do Facebook à medida que os protestos no Brasil foram aumentando e com o surgimento dos ditos Black Blocs, (mascarados que usam da força, promovendo ataques contra o que consideram símbolo do Capitalismo como bancos e empresas multinacionais) além de confrontar as forças policiais, que são designadas para manter a ordem.

Em Castilho, há uma semana, tivemos uma manifestação onde os nossos Black blocs, sem máscara, porém pintados de preto com carvão, fecharam a entrada e saída da cidade com pneus em chamas, impedindo as pessoas de entrarem e saírem da cidade pela via principal.
Houve aqui também o uso da força, confusão, desordem, e violência em certa medida, causando transtornos para pessoas que, como eu, tiveram que ir pela estrada de terra passando por Paranápolis para chegar em Andradina. Tudo isso por motivos como falta de moradias, iluminação pública, a falta constante de água para os moradores daquela localidade, entre outros problemas que afetam a qualidade de vida daquelas pessoas.
Depois do ocorrido algumas pessoas questionaram a Polícia Militar por não ter chegado a “marreta” nos manifestantes, pois, onde já se viu um bando de “vagabundos” tirar o direito de ir e vir das pessoas? Alguns disseram que se fosse no tempo dos militares esses desordeiros não teriam essa coragem de fazer bagunça. Outros defenderam que se deve protestar sim, mas com ordem e diálogo, que o uso da força não é legítimo.
O que muitos não percebem é que não há nada simples quando se diz respeito ao ser humano. Os black blocs, sejam os das capitais ou os nossos, não surgiram do nada, mas foram gerados e depois abandonados por seus pais, se tornando crias rebeldes. Mas quem são os genitores dos “baderneiros”?
O sistema capitalista é uma mãe de vários filhos que não consegue disfarçar sua preferência por alguns, se empenhando no cuidado de poucos e se ausentando do cuidado de muitos. Ela vê que não pode oferecer o seu melhor para todos e por isso sem culpa age com negligência, deixando as migalhas que caem da mesa dos seus preferidos para alimentar os “cachorrinhos”.
Créditos: Portal Castilho
Já o Estado é um pai obeso, preguiçoso, que não trabalha o suficiente para garantir o sustento de todos os seus filhos. Ele não consegue oferecer segurança, educação, saúde para toda sua prole e, por isso, fecha os olhos ao ver a mãe tratando suas crias de maneira tão desigual.
Alguns dos que não se sentam a mesa do baquete familiar acreditam que podem um dia fazer parte, afinal alguns poucos irmãos mais velhos conseguiram por esforço adquirir uma vaguinha. Outros, mesmo sabendo que não tem condições de se sentar a mesa, não se importam, pois pensam que o importante é manter a “ordem”. Porém, essa distorção gera em alguns o ódio por verem que alguns irmãos tem a dispensa toda da família a seu dispor, enquanto a maioria deve se contentar com o que sobra da ração dos gatos e é esse ódio que faz surgir os black blocs, ou os caras pintadas daqui, que mais do que melhorias, querem acabar com a ordem do mundo em que vivemos, causar transtornos para que sejam percebidos, desafiando a ordem que não os beneficia.
E agora me pergunto: usar da força militar, seja a PM ou as forças armadas, vai resolver o problema? Claro que não, mas para quem está sentado a mesa isso não interessa, desde que seus irmãos “punks'' parem de atrapalhar seu almoço.  Isto é perfeitamente compreensível, agora ver pessoas que estão a margem, defendendo este discurso me causa certo estranhamento.
Exigir ordem e diálogo de quem mal sabe se expressar por não ter tido uma educação de qualidade, que cresceu em uma família onde pai e mãe não foram tão presentes, pois ambos tinham que se matar de trabalhar para dar o mínimo para o filho. Alguém sem acesso à cultura, a lazer, alguém que quer ter as mesmas coisas que vê as pessoas das novelas tendo, bombardeados pelo marketing que cria uma necessidade "artificial" no indivíduo apenas para inserir um desejo de obtenção de algo por vezes inútil, mas que faz seus olhos brilharem, mas que ao trabalhar em uma fábrica ou no comércio percebe ao receber seu primeiro salário que esta vontade de compra não pode ser satisfeita.
Exigir diálogo de alguém invisível para o poder público, que percebe que só é “percebido” como ser humano na época da campanha eleitoral. Exigir ordem de ideias a alguém que nasceu no útero da violência e aprendeu desde cedo a linguagem universal do medo. E pior, torcer para que as forças de ordem utilizem dessa mesma violência para que a “paz” volte é no mínimo contraditório.
Só uma reforma no sistema pode amenizar o ódio destes filhos rebeldes. Quando o capitalismo for menos selvagem e excludente (se é que isso é possível) e quando o Estado enxergar mais o indivíduo, buscando criar condições para que o mesmo se desenvolva, e quando digo isso não falo apenas economicamente, mas proporcionando conhecimento, cultura, lazer e experiências de vida, o ensinando a refletir, pensar, criticar para que dessa forma possa saber dialogar. Antes disso, podemos até não concordar com os meios utilizados, mas temos que compreendê-los, deixando de lado este discurso raso que frequentemente adotamos, de que todo tem as mesmas oportunidades, de o que o diálogo resolve todos os problemas do homem.



Se os franceses pensassem assim, a Revolução Francesa nunca teria ocorrido e aquele país ainda hoje seria governado por reis opressores e que pouco se importavam se haviam miseráveis nos arredores do Palácio, entre outros exemplos claros onde era necessário criar a desordem para gerar uma nova ordem melhor para os cidadãos.
Se não houver mudanças profundas na forma como são desenvolvidas as relações econômicas e sociais, teremos que conviver com os infortúnios da revolta, afinal, como diz o ditado popular: “quem pariu os black blocs, que os balancem”

Silvinho Coutinho

PRIORIDADES: a manifestação no Nova York e a construção da agência da Caixa

publicado no blog Opositores em Outubro de 2013



Como anunciado no meu último texto, estou longe do Paraíso. E não é um distanciamento unicamente físico, de estar muitos quilômetros afastado. Sem internet, com uma rotina alterada e sem muito saco, não tenho estado por dentro dos acontecimentos e dos ocorridos da minha Castilho. Entretanto, dois fatos me chamaram a atenção sobre como funciona a política, os políticos e suas prioridades.
Tudo na vida da gente passa pelas prioridades. Elas costumam preceder as nossas escolhas. O que você tem como prioridade, mesmo que seja aquela mais velada, escamoteada sob camadas e camadas de convenções sociais, é o que vai te definir no futuro e o que te define agora, segundo as prioridades que você teve outrora.
Há pouco tempo, creio que no final do ano passado, a Caixa Econômica Federal resolveu fincar raízes na nossa metrópole. Bom pra gente, porque viver de Bradesco é desolador. Ouvi rumores que ainda esse ano inauguram a agência. Rápido, eficiente e útil! Atributos não muito comuns em ações governamentais.
Por outro lado, esse final de semana, sábado sem não me engano, houve uma manifestação dos moradores no bairro Nova York por melhorias no local, mais especificamente pela finalização do asfalto em umas poucas ruas que, não sei por qual motivo, ficaram esquecidas lá no fundão.
O Nova York é, sem fazer muitos rodeios, uma bomba relógio! Foi feito sem qualquer planejamento social, jurídico ou moral. Não sei como se pode imaginar que fazer um bairro longe do centro e, conseqüentemente, dos serviços públicos essenciais, poderia dar certo. Já assistiram Cidade de Deus? É bem aquilo lá, só que em menor proporção. Alguém pensa: joga a pobraiada pra longe que a cidade fica bonita. Só que não é assim que funciona. Daí, um dia (e ele sempre chega), aquele que foi marginalizado, ignorado (exceto, por óbvio, nas eleições) vai querer seu espaço.
Pode vir alguém me dizer que a CEF não é serviço genuinamente público, que é empresa pública e, portanto, tem lá seus trejeitos de pessoa jurídica de direito privado. Pura inocência! Umas ruas esburacadas onde quase ninguém vê, onde há pessoas que, igualmente, ninguém vê, nunca vai ser prioridade pra governantes que entram pensando em reeleição, em pagar dívidas de campanha, em fazer caixa dois, ou, apenas, fazer do seu filho um “dotô”. Um banco, com seus lucros bilionários, não passa despercebido.

E, só pra constar, em Castilho nem “dotô”, “fessô”, ou “rei da selva” podem se orgulhar muito dos rumos que a cidade tomou no âmbito social e do seu papel com relação ao Nova York. As prioridades do passado podem ser vistas hoje sem qualquer dificuldade. Aliás, acho que o único legado da administração passada foi deixar o povo muito insatisfeito e pronto para uma revolta. Cabe à atual saber contornar essa herança e dar à cidade um andamento que melhor atenda à coletividade.
Bem, assim como nossa história pessoal é fruto de nossas prioridades e escolhas, a cidade, um organismo vivo, é fruto das prioridades e escolhas dos nossos representantes, seja na esfera que for. Um banco, nesse nosso sistema, é algo importante. A CEF, pra quem precisa de financiamento imobiliário, é uma mão na roda. Entretanto, nunca pode ser maior que saneamento básico, água, luz e qualidade de vida pra coletividade. Temos que ter sempre em mente que banco só dá lucro pra meia dúzia de pessoas. Não passa disso! Uma cidade bem estruturada, pensada, feita e conduzida para o bem de todos é certeza de um futuro bem mais confortável e amistoso.


Márcio Antoniasi

ALL e Cab Ambiental: dessas empresas parasitas

publicado no blog Opositores em setembro de 2013


É fato, o mundo vive um momento de grande parasitismo do capitalismo. Parasitismo esse no sentido do capital captar do Estado as garantias de lucratividade que o sistema por si próprio não é mais capaz de oferecer.
Exemplos disto são vários, no entanto, fiquemos com alguns casos mais atuais, como a recente realização de leilões do governo federal na tentativa de terceirizar a exploração de rodovias federais e de poços de petróleo do chamado Campo de Libra, onde estão parte dos recursos minerais do propagandeado pré-sal.
 Estes leilões fracassaram e a justificativa do empresariado e da grande mídia é a de que as condições não eram suficientemente satisfatórias. Na verdade os contratos previam investimentos da iniciativa privada nestas concessões, o que tornou o negócio pouco atrativo.
Se considerarmos os moldes de como têm sido feitas as privatizações no país é fácil perceber que os empresários querem assumir concessões de serviços públicos sem precisar fazer qualquer tipo de investimento.  Na visão destes ‘empreendedores’ é o Estado quem deve promover todos os custos do negócio.
Por estas bandas da Noroeste Paulista não é difícil notar exemplos desta política. A privatização da ferrovia que passa pela região demonstra isso.  Por exemplo, no último dia 17 de setembro ocorreu mais um descarrilamento de trem da empresa América Latina Logística – ALL, onde onze vagões carregados com aproximadamente 500 mil litros de diesel tombaram próximo ao distrito de Paranápolis.
Tudo indica que a razão para o acidente teria sido a má conservação da estrada de ferro. Provavelmente, dormentes que deveriam ser trocados e não foram.
Não é a primeira vez que os acidentes com trens da ALL aterrorizam a população da região. Em 1999 outro descarrilamento da mesma empresa provocou o incêndio de milhares de litros de combustível em uma área próxima ao perímetro urbano de Andradina-SP, ferindo algumas pessoas e apavorando a cidade inteira, tamanha a proximidade com a área urbana.
Ao que tudo indica, manutenção de rede férrea não é o forte da ALL, basta ver as freqüentes noticias de descarrilamento. A histórica ponte ferroviária Francisco de Sá, inaugurada em 1926 e que liga o estado de São Paulo a Mato Grosso do Sul, está praticamente abandonada, onde a ferrugem corrói suas barras de aço.
O ramo de atividades da ALL não parece ser o dos menos lucrativos, ao ponto que impeça investimentos. Em maio deste ano o site do Jornal Impacto divulgou matéria que trata da retirada dos trilhos do centro da cidade de Andradina-SP. No artigo é destacado o fato de a prefeitura andradinense cobrar da ALL uma indenização de “R$ 50 milhões, que representa 1% do lucro anual da empresa”.
Ou seja, trata-se de uma empresa com margem de lucro que gira em torno dos 5 bilhões de reais por ano, mas, ainda assim, não quer dizer que vá cumprir com a mínima obrigação de zelo pelo patrimônio herdado nestas concessões de serviços públicos.
Para se ter uma idéia do parasitismo estatal que se vive, a retirada da linha férrea do centro da cidade de Três Lagoas-MS está sendo feita pelo governo de MS, juntamente com o DNIT. Conforme o “Jornal Impacto on line” o custo desta mesma operação em Andradina-SP esta orçado em aproximadamente R$ 100 milhões e a esperança do prefeito andradinense é que deputados governistas intervenham para que a “transferência dos trilhos entrem no orçamento da União”[1].
Assim, a transferência dos trilhos dos centros destas cidades vai ser feita com recursos do Estado. Ou seja, a realidade é bem diferente da ideologia que preconizava que a privatização desta ferrovia era necessária tendo em vista a impossibilidade do Estado em fazer este tipo de investimento.
O que se vê é que a ALL não é capaz de promover nem mesmo a simples manutenção de dormentes, o que dirá de uma obra de importância que envolve a segurança de moradores que convivem com vagões de combustível circulando próximos às suas casas.
 O caso da ALL é bastante parecido com o da Cab Ambiental, que tomou conta do serviço de água e esgoto de Castilho e de Andradina. Herdaram toda a infraestrutura e transformaram um serviço público essencial em puro negócio. Os investimentos são quase nulos e ainda assim, o pouco que se faz é, muitas vezes, pago com dinheiro público, vide o programa lançado pelo governo federal que irá destinar milhões às concessionárias de saneamento básico.
São casos típicos de uma era de capitalismo parasitário, de conglomerados de empresas que se apóiam no Estado como forma de garantir suas taxas de lucros. As privatizações são sinais disso. Os financiamentos estatais para empresas cumprirem suas obrigações como concessionárias de serviços públicos revelam ainda mais o caráter parasita do atual momento do mundo capitalista.
A era de capitalismo dinâmico, da livre iniciativa, do Estado mínimo, do mercado como indutor de bem estar social, essa era passou, se é que algum dia existiu. Hoje, mais do que nunca, reinam os monopólios e seus abusos do tipo da telefonia e da energia elétrica, o parasitismo estatal do tipo dos pedágios e da ALL, o predadorismo ambiental dos eucaliptos, da cana-de-açúcar, das mineradoras e os esquemas do tipo da Cab Ambiental.  


TAPANDO BURACOS: a privatização da água e outros assuntos sem importância

publicado no blog Opositores em agosto de 2013


Uma crítica generalizada é uma causa ou um efeito? Nas que tenho feito e participado creio ser um efeito, especialmente em relação à câmara de Castilho e sua atitude passiva quanto ao problema “Águas de Castilho”.
Tenho participado do Conselho Popular e acompanhado de perto a sua luta junto à prefeitura e câmara por apoio a essa causa. Em uma grande assembleia no início do ano, Joni esteve lá, distribuiu tapinhas nas costas e promessas de estar de acordo com a luta do Conselho e disposto a ajudar. De fato, em comparação com a câmara, Joni tem sido menos passivo e mais coerente em relação ao que disse. Já a câmara, merece um parágrafo a parte.
            Desde o início do ano, o Conselho tem intensificado a articulação junto à câmara e promovido reuniões em diversos pontos da cidade, no intuito de conscientizar e instigar a população ao debate e à luta contra a privatização. Participei de algumas reuniões e, para minha grata surpresa (naquele momento), pude observar a presença constante de alguns de nossos vereadores novos, inclusive do presidente da câmara, em que demostravam grande disposição em ajudar. Entretanto, quando a articulação para a realização do referendo se iniciou, a relação ficou, no mínimo, um tanto confusa. Percebi, desde então, que a frequência deles diminuiu, assim como o apoio. 
            Nas últimas semanas, dois fatos antagônicos me fizeram refletir sobre a atuação de nossa câmara. Na verdade, algumas notícias me fizeram refletir. A primeira refere-se à reunião com o diretor geral da concessionária, convocada pelos vereadores. Pelas informações que obtive (divulgadas pela imprensa), nossos representantes pediram o encontro para consultar sobre algumas possíveis reduções na tarifa e a única coisa que conseguiram da empresa foi um show de frieza e uma lição sobre o contrato firmado, além do anúncio de mais reajustes.
Senti vergonha por eles. Deu a impressão de que a reunião foi uma tentativa de “tapar buracos”, de conseguir alguma migalha da concessionária para ser usada como escudo político e álibi diante da passividade em relação ao referendo. Acreditaram que, talvez, haveria alguma “bondade” escondida no coração capital selvagem da empresa. Foram inocentes. Não há bondade e nem coração, só capital.
Em contrapartida, na última segunda-feira (09/09/2013) soube (também pela imprensa) que a câmara de Andradina aprovou uma CEI para investigar possíveis irregularidades no contrato firmado entre a prefeitura e a concessionária que administra o serviço de água e esgoto de lá, que, por coincidência, é a mesma empresa de Castilho (Cab Ambiental). Por mais que a câmara de lá possa ter sido omissa no passado (como a daqui também foi) ao aprovar esse mesmo contrato, hoje demonstram “arrependimento” (obviamente, pensando politicamente) e, principalmente, coragem para encarar o problema como deve ser encarado, sem “tapar buracos”, mas usando os instrumentos adequados (CEI).
“Tapar buracos” é sempre mais rápido e, por ser uma solução superficial, exige uma atitude repetitiva: tapa-se um buraco hoje, ele abre amanhã. Com isso, tem-se a impressão de “trabalho” constante, de ação. O que tenho observado em grande parte de nossa câmara é o interesse em resolver e, principalmente, divulgar ações que, por mais que sejam úteis, são pequenas e, a meu ver, sem necessidade da intervenção da câmara para serem feitas, bastaria a vontade dos setores responsáveis, exemplos: “instalação de bebedouro”, de “redutor de velocidade”, “limpeza e manutenção de prédios públicos” ou “lista de remédios para os ACS”. Porém, em questões mais “complexas”, como a lei referendo e a lei de tombamento municipal, eles tem se desviado, demonstrado pouco interesse diante da complexidade da causa.

Como eu disse, é mais fácil e mais visível “tapar buracos”.  Naturalmente, diante do recuo daqueles que um dia se mostraram interessados e do silêncio dos que se omitiram, as críticas acabam sendo gerais, respingando em todos da casa. E a cada resposta às críticas (às vezes indiretas) fica mais claro a preocupação em, principalmente, manterem o cargo, nada novo no cenário político castilhense. A renovação que todos esperavam tem se revelado a perpetuação de uma ideologia. 

PS: Este texto tratou de cargos públicos e suas ações, qualquer semelhança com a vida pessoal está em sua cabeça. 

Samuel Carlos Melo

Por sessões noturnas

publicado no blog Opositores em agosto de 2013



Desde o início do ano e a posse dos novos (em sua maioria) e de alguns velhos vereadores existe em Castilho a reivindicação de setores de movimentos populares para que as sessões da Câmara Municipal fossem transferidas para o horário noturno.
De todos os municípios da região de Andradina, somente Castilho se dá o luxo de ter o horário de trabalho dos vereadores nas segundas-feiras de manhã, e não à noite como todos os outros. É de fato um ‘luxo’ para um município de 18 mil habitantes realizar suas sessões legislativas em horário onde a grande maioria das pessoas está trabalhando, restando a poucos a disponibilidade de assistir e acompanhar o que é dito e proposto por vereadores.
Tradicionalmente, estas sessões sempre foram em horário noturno, mas a partir da década passada houve a mudança para as manhãs de segundas-feiras.
Dizem que o argumento mais usado por quem aprovou e por quem ainda defende a manutenção das sessões da Câmara durante o dia é que no horário noturno as pessoas não compareciam, preferiam as novelas, o que é um  argumento absurdo.
Ainda que isto fosse mesmo o caso, das pessoas preferirem assistir TV às sessões da Câmara de Vereadores, isto não justificaria tal mudança de horário, pois, entende-se que é direito de todo cidadão não querer acompanhar as sessões e que a mesma deva ser realizada em horário que melhor possibilite a participação da maioria.
Uma coisa é não querer e outra é não poder acompanhar o que acontece no legislativo castilhense. Da forma como está a maioria simplesmente não pode fiscalizar os trabalhos da Câmara, pois nas segundas-feiras de manhã é horário de trabalho.
Pior é o argumento que para este problema tem a Rádio Comunitária que transmite as sessões - que por sinal deveria transmitir de graça, sem nada cobrar, tendo em vista ser uma Rádio Comunitária. Ou seja, a população pode saber o que acontece no plenário da Câmara ouvindo rádio, mas é bom que ouça e fique a distância.
Ora, a privatização da água foi transmitida pela Rádio local, muitos podem ter ouvido o que aconteceu naquele dia (se é que transmitiram mesmo aquela fatídica sessão), mas como iriam intervir do local de trabalho?
Pelo rádio não existe pressão popular. Esta se faz no corpo-a-corpo, ali no local e na hora. Tudo leva a crer que esse é o problema: ‘pressão popular’, medo de que ela aumente.
O momento político em Castilho e no Brasil mudou bastante. Aliás, já vinha mudando. A privatização da água teve o efeito de multiplicar a participação popular e o interesse das pessoas pela política em Castilho. O que se viu nos meses seguintes à entrega da água é um exemplo disso. O plenário da Câmara sempre cheio, mas com participação quase que restrita a aposentados, desempregados ou trabalhadores que trabalham em regime de plantão.
Ainda se percebe o clima quente. Se está sendo assim de manhã, como seria à noite?